Ainda não tens filhos? Quando é que pensas tê-los, afinal? Faz já ! Olha que o tempo está a passar, e estás a ficar velha!
POR KATSSEKYA SAMUEL
Num artigo publicado pelo
jornal Expresso intitulado “podem parar de me perguntar quando é que
decido engravidar”, por mais que me esforce não me lembro da data exacta
que o li. Apenas sei que foi no final de verão, mês de Agosto, de 2017.
Confesso que há muito quis falar sobre este
assunto, que tem martirizado, silenciosamente, muitas pessoas em redor do mundo, e em especial em Angola. Contudo,
só no final de cacimbo é que resolvi discutir esta temática, talvez porque o meu subconsciente quisesse levar uma
lufada de ar fresco, um aroma de esperança para as
mulheres e casais que vivem este dilema. E, naturalmente, sonham
carregar um bebé nos seus braços. Porém, este sonho pintado de cor de rosa ou azul, acaba
por se tornar um pesadelo para aqueles
que estão nos trinta anos, ou tem mais de trinta, e não conseguem engravidar.
A
sociedade não aceita, não perdoa e discrimina as pessoas que estão nessa faixa
etária e não têm filhos.
Esta
descriminação surge de forma subtil, com
perguntas simples, aparentemente
inofensivas, porém tornam-se num fel que chega a intoxicar a mente de muitas
mulheres e casais que ainda não engravidaram.
Indubitavelmente, muitas delas ficam
aterrorizadas quando se deparam com pessoas que fazem perguntas como: porque é
que ainda não estás grávida?
De
acordo com Mariana Fernandes, uma jovem
que vive o mesmo dilema, “as pessoas
encontram-se contigo e nem querem saber do seu estado de saúde, a família, carreira e o teu bem-estar.”
A qualidade de vida para alguns angolanos resume-se
a fazer filhos, casar e ponto final. Mesmo que não tenham o que dar de comer às
crianças. O importante é ter filhos. Pior ainda: se não tiveres filhos, és considerada
uma pessoa infeliz e doente. E obrigam-te, tal qual num ultimato, para engravidar.
Infelizmente,
é esta representação social que a sociedade angolana
tem sobre as mulheres.
Mariana
Fernandes, angolana e finalista do curso
de psicologia numa das universidades de Luanda, refere que muitos nem sabem sobre as tuas infindáveis tentativas
para engravidar. “Nem sabem se você
sofreu algum tipo de operação no útero ou
que tens tidos muitos abortos espontâneos.
E quando falas em adopção, parece que comestes o maior dos crimes.”
As mulheres que estão na casa dos 30 anos, e
não têm filhos, são discriminadas em várias sociedades. Não é a toa que a
mensagem de Emily Bingham, no Facebook,
refere que teve “74 mil partilhas e 54 mil comentários” ao abordar esta temática.
Pelo número de comentários e partilhas, isso mostra que existem milhares de indivíduos que sofrem
com este problema, sobretudo as mulheres.
De
acordo com Paula Cosme Pinto, autora do artigo que me deu
input para quebrar o silêncio, muitos casais em Portugal vivem o problema de
fertilidade e são submetidos “ a tratamentos dolorosos, tanto fisicamente como
psicologicamente”. Já em Angola, o caso torna-se triplamente doloroso devido ao
nosso sistema de saúde que não dá resposta aos casos de infertilidade.
Também a própria cultura não aceita que haja
casais inférteis. O que complica ainda mais a situação é a dificuldade das
pessoas em buscarem ajuda nas maternidades.
No tecido cultural africano não existem homens inférteis . Quando
um casal não engravida a culpa é sempre da mulher.
Assim,
a grande maioria dos homens africanos deixam as suas esposas que não
conseguem gerar filhos. É por isso que, inconscientemente, larga maioria das
mulheres engravida antes do casamento e, muitas das vezes, a pedido da família
do noivo.
Agora,
os homens, mesmo sendo inférteis, não vivem
este problema, pois a sociedade nunca discrimina
homens sem filhos. Aliás, não há homens sem filhos. “ É assim que a sociedade
considera”, diz Miguel Mateus, um estudante
de informática
De acordo com Aníbal Simões, no seu romance
intitulado “O feitiço da rama de abóbora”,
muitos dos que vivenciam esta situação acham que foram enfeitiçados com a rama
de abóbora. Daí que muitos casais
recorram tratamentos não convencionais: vão aos quimbandas, adivinhos, umbandas, sabe-se lá em que mais, para serem tratados .
Tudo
isso complica ainda mais a situação da mulher e muitas delas entram em depressão profunda.
Quando
te deparares com pessoas que façam perguntas como a acima referida, Emily Bingham, citada por Paula Cosme Pinto,
diz que deves responder o seguinte: “metam -se na vossa vida. Vocês não têm
nada a ver com isso “.
Este
tipo de resposta aplica-se mais no contexto europeu e não no africano. Contudo,
quem a quiser aplicar, é livre de o fazer, pois o ser humano nasceu com livre arbítrio.
Referência
Consultado em:
expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2015-10-07-Podem-parar-de-me-perguntar-quando-e-que-decido-engravidar no dia 30 de Junho e visualizado a 31 de Agosto de 2017 às 0:00horas.
Consultado em:
expresso.sapo.pt/blogues/bloguet_lifestyle/Avidadesaltosaltos/2015-10-07-Podem-parar-de-me-perguntar-quando-e-que-decido-engravidar no dia 30 de Junho e visualizado a 31 de Agosto de 2017 às 0:00horas.
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