Porto Amboim, Hoje! 8 de Março de 2020
Tivemos o
prazer de ouvir hoje a Sra Ministra das Finanças, a falar sobre o seu pelouro.
Gostamos da forma profissional, arejada, moderna e desimpedida com que ela
trata os assuntos de que fala. Tomamos boa nota do seu pensamento relativo ao investimento
privado e estrangeiro. Muito interessante. É de facto uma abordagem nova.
Se de facto o
investimento estrangeiro é crucial para o desenvolvimento do País, tudo temos
de fazer para o atrair, abrindo-lhes as portas e criando condições para que ele
se instale neste imenso Pais. Certamente que os grandes projectos deste Pais
não se fixarão em Luanda e quem traz dinheiro quer “ver para querer”.
Nada melhor que
organizar uma “montra” daquilo que este Pais, tem para oferecer, sempre que
potenciais investidores nos visitem. Afinal, aqui no Quanza-Sul devíamos ter
mais para mostrar do que apenas a grande “Agrolider”.
Há muitos anos
que venho sugerindo que Porto Amboim - uma linda cidade, com enorme potencial -
deveria ser objecto de uma intervenção piloto a diferentes níveis, mas
particularmente ao nível da sua administração territorial.
Porto Amboim
está a 3 horas de Luanda, possui belas praias, recursos piscatórios, potencial
agrícola e pecuários. Ainda por cima, Porto Amboim recebeu nos últimos anos
antes da crise, importantes investimentos privados do sector de Petróleos que
infelizmente não estão a funcionar, hoje. A população de Porto Amboim, já
conheceu os efeitos - embora efémeros - do desenvolvimento.
Porto Amboim
face à sua localização entre Luanda e Benguela e não muito distante de outras
cidades do Quanza Sul, devia ser vista como um local de destino para o Turismo
interno. Há muitos anos a vontade de fazer desta cidade a “Costa da Caparica”
de Luanda, levou-nos a promover uma geminação com Almada de onde surgiram
ideias interessantes para esta cidade. Recordo-me por exemplo, que se propunha
na altura uma requalificação da Marginal de Porto Amboim e o talhonamento de
uma área nobre essencialmente destinada a segunda habitação.
Apesar de nada
disto ter acontecido, esta cidade tem ainda tudo para ser essa “montra” que o
nosso Governo podia usar para motivar potenciais interessados.
Não creio que
seja muito difícil elaborar para este município um projecto piloto baseado numa
“Estratégia de Desenvolvimento e Crescimento” que nos traga uma visão,
objectivos, metas e resultados a atingir, estrutura de ordenamento e desenvolvimento
territorial e mecanismos de monitorização e facilitação institucional, de forma
a atingir o crescimento económico de uma forma abrangente, que sustente os
objectivos que podem ser realisticamente atingidos a nível social, económico e
ambiental.
Tal “Estratégia
de Desenvolvimento e Crescimento” pode ser executada por uma equipa ad-hoc de
duração limitada funcionando através de um processo consultivo abrangente que
inclua todos os Níveis de governação. Este processo deve promover a abordagem
ao nível das forças do município, combinando competências, recursos e ideias
para estimular a economia municipal. Após quase 20 anos apaixonado por esta
cidade seria um sonho ver surgir um Novo Porto Amboim que funcione como mostra
do que Angola pode vir a ser.
Mas o que é
Porto Amboim hoje?
Infelizmente
Porto Amboim está a viver momentos muito difíceis, resultantes de um tecido
económico em rotura e enfrentando um processo de desertificação humano. Ninguém
quer viver nas condições que esta cidade oferece. Nada melhor para descrever a
situação do que a mensagem que recebi de alguém que recusou o meu convite para
me visitar:
“Estás rodeado
de lixo, numa zona mal cheirosa e cheia de moscas. Para lá chegar tenho que ter
a coragem de não estragar o meu carro nas centenas de buracos existentes em
todo o casco urbano da cidade”.
Tive de lhe
confessar que, para além disso não tenho água da rede e a cidade não tem
iluminação publica a funcionar. Ainda tive que lhe dizer que é assim desde
2014, quando vim viver para Porto Amboim.
O que podemos
fazer?
Da minha parte,
irei continuar a falar desta minha experiência em Porto Amboim. Apesar de tudo,
gosto de viver aqui. Vou voltar!
Por Rui Lopes
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